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28 de junho de 2014
Lobato e leitura: prescrição sempre segura¹

MARISA LAJOLO²

Para Moacyr Scliar, in memoriam

Emília, a boneca de pano e da obra lobatiana, deve sua condição de protagonista a um gesto médico e a um produto farmacêutico: o Dr. Caramujo e suas  pílulas falantes. A partir da ingestão de uma delas, a boneca tornou-se a irreverente criatura que – com suas críticas e ironias- fascina leitores desde os aos 30, quando nasceu, até esta segunda década do século XXI.

O episódio  da “cura” da mudez da boneca traz à tona a relação da Medicina com a Literatura. Em nome desta relação evoco Moacyr Scliar (1937 – 2011), autor entre outros títulos de A paixão transformada: história da medicina na literatura [3] e Território da emoção [Crônicas de Medicina e Saúde]  [4]   a quem dedico este texto. Ao lado de Scliar, a figura do médico-escritor também se representa, entre outros, por  Guimarães Rosa e Pedro Nava. Dentre os mais antigos doutores romancistas, Joaquim Manuel de Macedo talvez seja o nome mais conhecido: afinal, ele inaugura o romance  de grande público com A moreninha (1844), obra frequente em vestibulares de todo o país e na qual figuram estudantes de medicina.

Os estudantes de medicina retratados na história são levianos: juntos organizam uma paródia de conferência médica, na qual o jargão é instrumento pelo qual os futuros médicos se divertem às custas da plateia leiga:

 Seguiu-se novo exame da enferma, no qual os quatro estudantes fingiram observar o pulso, a língua, o rosto e os olhos da enferma; auscultaram e percutiram-lhe o peito e fizeram todas as outras pesquisas de costume. (…)  Felipe teve a palavra: (…)  eu diagnostico uma bacchites . Concebe-se perfeitamente que as etesias desenvolvidas pela decomposição dos éteres espasmódicos e engendrados no alambique intestinal, uma vez que a compressão do diafragma lhe cause vibrações simpáticas que os façam caminhar pelo canal colédoco até o periósteo dos pulmões  … [5]

A passagem acima levanta questões.

Tratava-se de embriaguez.

Os leitores podem perguntar-se: a atitude dos estudantes foi adequada ?  A situação não lembra a atitude de um médico que hoje indagasse sobre perda de líquido amniótico a uma grávida distante do jargão médico ?  Do aborto à eutanásia, do respeito a formas alternativa de medicina à ( necessária ?) intromissão em crenças alheias para salvar vidas ou minorar sofrimentos, questões de ética, sempre no horizonte da vida e da  morte, em nome das quais se exerce a medicina derramam-se hoje pela mídia e talvez pelas consciências.

E isso é muito bom. Assim  como ninguém nasce sabendo medir pressão, fazer sutura, ou ler radiografias, também ninguém nasce com senso ético. 

Ética  se aprende .

Depois de mais ou menos onze anos de escola e dezoito dezenove de vida, o estudante ao chegar a um curso de Medicina com certeza já tem noções de ética. Talvez até de ética médica. Mas noções não bastam, pois um profundo e límpido senso ético tem de estar incluído no canudo  e no anel de pedra verde que, ao fim de alguns anos, transforma jovens em profissionais da saúde, com direito a avental branco, doutor  antes do nome e bloco de prescrição.

Entre as muitas experiências que formam e educam o senso ético destacam-se as experiências literárias, o que de novo traz à cena Moacyr Scliar. Suas histórias tematizam o humano em situações limite, onde a ética pode fazer a diferença entre a vida e a morte, o sofrimento e a paz.  Pois a literatura – sobretudo a boa literatura como a de Scliar – tanto registra a vocação ética do ser humano quanto testemunha as dificuldades e embaraços da realização desta vocação. A leitura literária faz o leitor vivenciar, na comodidade inconsequente da sua  poltrona, situações nas quais a Ética está na berlinda. O leitor sai da leitura mais preparado para as decisões que o aguardam  – agora com  conseqüências –  para além de sua poltrona, na vida real.     

Monteiro Lobato ( 1882 – 1948)  pode contribuir para a discussão. Em Problema vital, obra de 1918, bem como em vários contos [6] e artigos o criador da boneca Emília mexeu com a saúde pública. A questão avulta, por exemplo, em O rapto, conto ambientado numa pequena cidade do interior paulista, e que passo a ler em versão encolhida ( por mim ), cujo encolhimento exigiu pequenos ajustes ( também de minha lavra, e assinaladas em vermelho):

Sou oculista.

Dentre tantas especialidades abertas ao anel de pedra verde, barafustei pela oftalmologia, movido por nobres razões sentimentais. Lutar contra a noite, arrebatar presas à treva: poderá existir profissão mais  abençoada ?  (…)  O oculista,, for a dos grandes centros, é um animal andejo. (…) Conto aqui  o caso do cego do Rio Manso.  (…) Pari para Rio Manso ( … ) e era o Geremário (…) a quem extirpei uma catarata (…) o meu fidelíssimo escudeiro. (…)

Ao entrar em Rio Manso, chamou-me atenção um berreiro. Em certa casinhola fechada ia rolo velho, surra ou luta, a avaliar pelos gritos que lá vinham (…) Aproximaram-se alguns vizinhos(…) :

– Se a gente fosse se incomodar cada vez que o Bento Cego desce o guatambu nos filhos …

Bento Cego … O caso interessava-me. Pedi informações.

–  É um cego que mora aqui, o Bento. Ele gosta da sua pinguinha. Bebe `s vezes demais, vira valente e mete a lenha nos filhos (…)

Bati de novo na porta (…) . Abriu-ma uma rapazinho aí dos seus quatorze anos. Interpelei-o. O menino riu-se.

–  Bem se vê que o senho não é daqui. Papai é assim mesmo. Bebe seus martelinho e quando esquenta a cabeça, o gosto dele é bater. “Nós deixa” e até “se diverte” com isso…

Assombrei-me. Um pai cujo goto é bater na prole e filhos que se divertem com a surra ! (…)

Armei tenda em Rio Manso e pus-me a consertar olhos. (…) Enfronhei-me na história de Bento Cego.  Nascera arranjado, filho dum fiscal da Câmara , e quando casou morava em casa própria, legada pelo pai e sita em rua de procissão. Maus negócios fizeram-no perdê-la.  (…)

– Como e por quê ?

Era Bento um triste incapaz. Não prestava para coisa nenhuma. (…) Se viu, por fim,  com toda a herança paterna reduzida a uma mula. Os filhos (… ) tratavam-no a pontapés e, por fim, quando a miséria chegou  e faltou (…) feijão (…) espancaram-no.

Bento não reagiu. (…)

Entraram os filhos a repetir as doses, a amiudarem-nas. (…)

Tal situação durou até a venda da mula . Aí explodiu. Quando entraram em casa os duzentos e sessenta mil reis, (…) Bento anunciou que ia aplicá-los num excelente negócio. Fartos de excelentes negócios, os filhos opuseram-se. (…) Havia que repartir o cobre.

Bento resistiu (…) Os filhos quebraram-lhe a cara e fugiram com o dinheiro.

Datou daí a cegueira do homem; do espancamento resultou traumatismo do nervo ótico e consequente catarata.

Bento passou a mendigo. (…) Como em Rio Manso não existissem cegos, todos se apiedaram dele. Davam-lhe roupas velhas, chapéus, mantimentos, dinheiro – afora consolações verbais.

Resultou disso uma relativa abundância. (…)

Os filhos marotos cheiraram de longe a reviravolta da fortuna (…) , vieram (…) implorar perdão do velho. (…) Bento perdoou-os e readmitiu-os em casa. A esmola sempre farta havia de dar para todos.

E deu. (…)

Milagre ! Aquele homem que e olhos perfeitos jamais conseguira coisa alguma na vida além do desprezo público e da pancada dos filhos, recebia agora provas de carinho, gozava de certa consideração, fazia-se chefe da casa, respeitado, ouvido – e até temido !

Acostumou-se a mandar e a ser obedecido . (…)

Até da viuvez se remendou o Bento. Surgiu logo uma parenta pobre que lhe escreveu propondo-se a morar com ele  e cuidar da casa. Veio a mulher.

(…)

Mais tarde, novo parente em petição de miséria veio achegar-se ã sua sombra – um misantropo que lhe contava lorotas e lia capítulos do Bertoldo e da  História de Carlos Magno e dos doze pares de França.

(…)

Uma novem apenas toldava a paz da família restaurada. Bento bebia e, se errava a dose, (…) esquentava a cabeça.  Aspectos da vida antiga vinham-lhe então à memória , como  a cena da pancadaria, e Bento, com grande furor apostrofava os filhos, (…) deslombava-os à cega.

Foi por essas alturas que cheguei a Rio Manso, e o caso do Bento , que desde o primeiro dia me interessara à curiosidade, interessou-me depois à piedade.

Resolvi curá-lo. (…)

 Propus-lhe tratamento.

– Deus que o abençoe ! Que vontade tenho de ver de novo o sol ! O  sol, as cores, as gentes … Só quem perdeu a vista sabe o que valem os olhos. Esta noite sem fim …

– Terá fim a tua, meu velho . (…)

– Deus o ouça !

(…)

Pois está combinado. Amanhã cedo vais ao meu consultório e amanhã mesmo te opero. E verás de novo o sol, as flores, o céu …

A fisionomia do cego irradiava.

(…)

No dia seguinte (…) , fiquei à espera do homem.

Oito, nove horas, dez, onze e nada. Bento não aparecia .

– Geremário já aprontou o quarto do cego ?

– Não, senhor .

– Por quê ? Não ordenei isso ontem ?

Geremário sorriu maliciosamente.

– O homem não vem, seu doutor. Vai ver que não vem. Pois se a sorte dele é ser cego …

Revoltou-me aquele cinismo e (…) saí rumo à casa do Bento.

Encontrei-a fechada. Bati e ninguém me respondeu. Insistia nisso quando se abriu a janela do casebre fronteiro (…).

– Pode dizer-me que fim levou a gente desta casa  ? perguntei .

– Seo Bento ? seu Bento foi-se embora. Ali pels dez da noite os filhos “vinheram” com um carro de boi e um recado seu.

– Meu ? …

– Seu, sim ! Que o doutor mandou dizer que fosse já, já, por causa da operação – uma história comprida . Seo Bento trepou no carro, com aquela coruja que mora com ele, mais o leitor de livros, e as roupas, e o cachorro, e o negrinho, e a cacaria inteira. ( Depois o carro seguiu por esse mundo fora.  Os filhos consumiram com ele.

Fiquei parvo, inteiramente desnorteado de ideias.

A vizinha prosseguiu:

– Mas se ele só presta porque é cego … Se sarasse, toda a família afundava na miséria outra vez …

No meu primeiro ímpeto de dar queixa à polícia disparei para a casa do delegado. A meio caminho, porém, estava arrefecida essa inspiração e ao chegar à delegacia, gelada de todo. Parei à porta. Vacilei.

Em seguida dei de ombros, convencido deque o Geremário tinha razão (…) e os filhos do cego tinham razão e todo mundo tem razão.

(…)

Rodei para casa.

Logo ao entrar apareceu-me o Geremário.(…)

-Posso desarrumar o quarto do cego ?

Olhei para ele ainda irritado. Mas a irritação caiu logo. Que culpa tinha o Geremário de conhecer a vida melhor do que eu.

 (…) 

Como se viu, o conto narra a história de Bento Cego, raptado pela família para impedir que ,  submetendo-se  a uma cirurgia, ele recuperasse a visão: operado, Bento Cego deixaria de receber as esmolas com as quais sustentava a família. Fazendo a ponte entre o mundo do médico oculista e o mundo de Bento Cego, Lobato põe em cena Geremário – o ajudante do médico-  que tenta explicar e traduzir a cultura interiorana dos pacientes para a cultura cosmopolita do médico. 

Como se viu, surpreso pela demora de Bento Cego chegar para a cirurgia já marcada , o médico pergunta ao ajudante :

– Geremário,  já aprontou o quarto do cego?

– Não, senhor,

– Por quê ? Não ordenei isso ontem?

Geremário sorriu maliciosamente.

– O homem não vem, seo doutor. Vai ver que não vem. Pois se a sorte dele é ser cego … ( 239)

Antecipando o desenlace, isto é, prevendo que Bento Cego  não viria para a operação Geremário ensina a seu patrão ( e por tabela aos leitores de Lobato ) que, em matéria de doença e de saúde, doutores sabem muito mas não sabem tudo.

Carta escrita por Lobato em 10 de fevereiro de 1923 ao amigo Godofredo Rangel, dá a entender que o conto foi inspirado em episódio da vida real  :

( …)  Fui a Campos do Jordão com o Macedo Soares e na estação de Pinda vi um aleijado num carrinho , enérgico,  a ralhar com os filhos que o puxam.   Senti  uma coisa: aquele homem, apesar de aleijado, era o importante e rico da família, o que ganhava a subsistência de todos com as esmolas recebidas. Daí o seu tom mandão , apesar de viver sem pernas dentro do carrinho. Um conto formou-se em minha cabeça, e de volta despejei-o no papel, como quem despeja a bexiga. [7]

Despejado no papel[8] , o conto teve vida turbinada: foi originalmente publicado no número de agosto de 1923 na  Revista do Brasi, incluído no mesmo ano no livro O macaco que se fez homem, depois republicado em  Contos pesados (1935) e, finalmente, em Cidades mortas.

Na passagem da cena vista por Lobato na estação, para a história contada na folha de papel, a beleza delicada da travessia da vida para a arte: o paralítico se transforma em cego e a história é protagonizada por um médico ambulante, especialista em curar cataratas. 

O leitor fica de camarote para  julgar, de fora, o que o conto conta e as questões que a hisória sugere:  um  paciente tem  direito de recusar tratamento ? devia o médico denunciar o rapto e forçar a cirurgia ? e se o rapto não contou com a conivência do cego ? A questão cresce em complexidade,  por ter sido a catarata causada por uma surra dos filhos, não é mesmo ? 

E não se pense que a situação imaginada por Monteiro Lobato é fantasiosa, ou específica de uma época mais antiga. Durante a guerra do Vietnã, a imprensa noticiava que jovens  norte-americanos, suas famílias e seus médicos, para evitar o recrutamento militar, não medicavam – por exemplo-  fraturas cujas conseqüências eram, aos seus olhos, muito mais leves do que os riscos de campos de batalha.

Um dos grandes valores da literatura é exatamente esse: permitir ao leitor envolver-se ( na segurança do mundo da ficção, do faz-de-conta e do era uma vez ) em situações limite de certo / errado, de vida/morte. No envolvimento que a boa literatura proporciona, ao transportar o leitor para o mundo do verossímil sem o ônus do verdadeiro, histórias permitem a realização do sonho de ser-outro, continuando a ser o-mesmo.

Ser outro, no caso da leitura de contos e romances significa, por exemplo, escolher o lugar a partir do qual se vai vivenciar a experiência do que se lê. No caso deste conto pode-se  escolher  vestir a pele do jovem médico itinerante. Ou a do homem com catarata. Ou a de Geremário. Ou a da vizinha. Ou de um filho do cego. Ou do delegado …  É nesta mudança de identidade, temporária e  reversível, que se  aprende a pensar de outros ângulos o longo e delicado eixo que vai do certo ao errado, categorias que, ao longo da história, dão diferentes expressões à antítese Bem / Mal.

A  fulminante reação inicial do médico à opinião de Geremário ( Revoltou-me aquele cinismo de opinião e ordenei-lhe com rispidez que cumprisse minhas ordens sem mais filosofias [ 239] ) lembra a soberba com que os estudantes de A moreninha afirmam-se face aos leigos que testemunham a paródia da conferência médica.

Mas voltemos a Monteiro Lobato.

Agora, não mais o Lobato dos magníficos contos para adultos, mas o Lobato de nossa infância. Na história do sítio, o simpático Dr. Caramujo não é inteiramente  isento de petulância: chamado para reconstituir a perna de Emília, da qual Narizinho tirara uma boa porção do recheio de macela, quer impressionar a menina:

( …) arrumou os óculos para examinar a perna de Emília.

– É grave ! exclamou . A Senhora Condessa está sofrendo de uma anemia macelar no pernil barrigóide esquerdo. Caso muito sério.

– E que receita, doutor ? Pílula de sapo outra vez ? – indagou a menina

– Esta doença -explicou o grande médico –  só pode sarar com um regime de superalimentação local.

-Alimentação macelar, eu sei, eu sei  – disse a menina rindo-se da ciência do doutor. Tia Nastácia sabe aplicar esse remédio muito bem. Em dois minutos, com um bocado de macela e uma agulha com linha ela cura Emília para o resto da vida. ( 63)

Ainda que atenuada pelo humor, a petulância do Dr. Caramujo prossegue, desqualificando  Tia Nastácia para a terapia necessária à reconstituição da perna da boneca: 

– Tia Nastácia ! – exclamou o médico escandalizado. Com certeza é alguma curandeira vulgar !  Macela ! alguma mezinha vulgar também ! Oh, santa ignorância ! Admira-me ver uma princesa tão ilustre desprezar assim a ciência de um verdadeiro discípulo de Hipócrates e entregar a Condessa aos cuidados de uma reles curandeira ! … (63)

Ao destempero, preconceito e desrespeito -semelhantes à atitude do oculista que nega a Geremário o direito a filosofia ( outra forma de designar  sabedoria ) Narizinho responde sem papas na língua: 

– Reles curandeira ?  exclamou a menina indignada. Chama então Nastácia de reles curandeira ? Se tem algum amor à casca  retire-se, Senhor Cascudo, antes que eu faça o  que fiz para a tal Dona Carochinha. Reles curandeira ! Já viu, Emília, um desaforo maior ? ( 63)

Fica, assim,  para Narizinho ( presença feminina luminosa nesta discussão de tão poucas mulheres ) a defesa da preta velha. Como ficou para Geremário a lição que ensinou a seu chefe médico que os polos da doença e da saúde não se inscrevem apenas na assepsia de lâminas de laboratório, nem na generalidade dos compêndios médicos. Ficou a lição de que no exercício diário da Medicina, doença e saúde são modos  de ser do ser humano. Modos de ser de homens e mulheres que, além de um corpo, têm sonhos, medos e interesses que dirigem o modo como gerenciam seu corpo, sua saúde e suas enfermidades . 

Exercendo-se a Medicina no bojo da vida social  – e no caso brasileiro, de uma vida social cruzada por tantos e tão diferentes valores e crenças e ensombrecida por tanta desigualdade -fica como lição maior de Monteiro Lobato que os oculistas serão melhores oculistas quanto mais ouvirem  Geremários. Todos  O que equivale a dizer que os médicos serão melhores médicos quanto mais lerem boa literatura e quanto mais ouvirem seus pacientes, como quem ouve uma boa história.

Pois, como sabiamente ensina Moacyr Scliar  “além do território da emoção humana, médicos e escritores  também compartilham um instrumento comum:  a palavra”


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[1] Versão anterior deste texto constituiu palestra feita na Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP em 3 de dezembro de 1998, sendo publicada em Ser médico ( Revista do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) em 2000 .  Na atual versão, constitui palestra de abertura da 6a. Jornada Interdisciplinar de Geriatria e Gerontologia ( Serviço de Gerontologia  do Hospital Sírio-Libanês) em 24.05.2014. A autora agradece o convite da Comissão Científica, particularmente ao Dr. Wilson Jacob .[2] Marisa Lajolo é professora titular ( aposentada) do Departamento de Teoria Literária  da Unicamp e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É autora, entre outros títulos, de A formação da leitura no Brasil  ( Ed. Ática) e (org)  Monteiro Lobato livro a livro ( obra infantil) ( Premio Jabuti Melhor Obra não ficção, 2009)SP: IMESP / Ed. Unesp.  e (org)    Monteiro Lobato livro a livro ( obra adulta), S.P. Editora Unesp :2014.  O poeta do Exílio  SP, FTD, 2012 recebeu prêmio da Academia Brasileira de Letras.[3] Scliar,  Moacyr . A paixão transformada : história da medicina na literatura.  São Paulo : Companhia das Letras. 1996

[4] Scliar,  Moacyr . Território da emoção ( Crônicas de Medicina e Saúde).  São Paulo : Companhia das Letras. 2013 .

[5]  Macedo, Joaquim M. de  A moreninha.  ( ed. crítica de Tânia Serra)   R.J. : Lacerda Ed. 1997 p. 173-4

[6] 05.06.1917 “ Domingo, como amanhecesse chovendo, abanquei e pari Pollice verso, uma violenta mercurial contra os médicos.  É a história de um facínora moderno, defendido por todas as leis e todos os  preconceitos sociais, que mata um cliente rico para apresentar conta gorda no inventário.  Vou manda-lo para o número de junho  (RB ? ) A barca, 2o. vol. p.139

[7] Monteiro Lobato.  A Barca  de Gleyre .  São Paulo:Ed. Brasiliense. 1956 . 2o. vol. p.253-254

[8]  (…) quando produzo um conto, de forma nenhuma o tenho completo na cabeça: tenho lá dentro uma só coisa: a ideia central do conto. Tudo o mais se forma no ato de escrever. A primeira frase que lanço determina  todas as mais. N ‘O rapto” não havia nem rapto nem nada; só havia esta ideia central: um cego que, justamente por ser cego era o único da família que ganhava dinheiro e tinha importância . Monteiro Lobato.  A Barca  de Gleyre .  São Paulo:Ed. Brasiliense. 1956 . 2o. vol. p.253-254