Jornada de Passo Fundo homenageia Moacyr Scliar

Após uma pausa de três anos a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo retorna em 2017 e um dos escritores homenageados nesta edição será Moacyr Scliar. O evento acontece de 2 a 6 de outubro, no Campus da Universidade de Passo Fundo (UPF). No ano em que são celebradas as oito décadas de nascimento do escritor, a Jornada denominou o Centro de Eventos da UPF, onde acontecem as exposições da Jornada e da Jornadinha, como Espaço Moacyr Scliar. Desde a primeira edição, Scliar adotou o projeto da Jornada e, até sua morte, em 2011, foi presença constante no evento. A obra de Moacyr será homenageada pela 16ª Jornada Nacional de Literatura ao lado de outros escritores de peso, como Clarice Lispector, Ariano Suassuna e Carlos Drummond de Andrade.

Cinemateca Capitólio exibe o filme “Sonhos Tropicais”

Em agosto, mais um evento marca a programação “Scliar 80 anos”. A Cinemateca Capitólio exibe no próximo dia 26, mais um filme baseado nas obras do escritor Moacyr Scliar. “Sonhos Tropicais” tem direção de André Sturm e é baseado em duas obras do escritor: os romances “Sonhos Tropicais” e “Ciclo das Águas”. Lançado em 2001, o longa-metragem traça um paralelo sobre os temas abordados nas duas obras: descoberta da vacina da febre amarela por Oswaldo Cruz e o tráfico de escravas judias ocorrido no Brasil no mesmo período. Dirigido por André Sturm e com roteiro de André Sturm, Fernando Bonassi e Victor Navas, o filme conta com nomes como Carolina Kasting, Ingra Liberato e Bruno Giordano em seu elenco. O evento Exibição do filme Sonhos Tropicais Local: Cinemateca Capitólio – Rua Demétrio Ribeiro 1085, Centro Histórico de Porto Alegre – (51) 3289-7450 Dia: 26 de agosto Horário: 18h Ingresso: gratuito (respeitando a ordem de chegada)

Programação Scliar 80 anos exibe o filme “Um Sonho no Caroço do Abacate”

A programação Scliar 80 anos continua. No mês de junho, a agenda de atividades terá como foco a adaptação literária de Moacyr Scliar para o cinema. O filme “Um Sonho no Caroço do Abacate”, dirigido e produzido por Luca Amberg, foi baseado na obra homônima de Moacyr Scliar, lançado em 1998. O elenco contou com grandes nomes do cinema nacional e internacional e da televisão como Elliott Gould, Talia Shire, Taís Araújo, Edward Boggis, Caio Blat, Caco Ciocler e Mariana Ximenes. Rodado em português e inglês, o longa-metragem contou com a parceria Brasil-Estados Unidos durante a sua produção. Ainda neste ano, deve ser lançada uma versão remasterizada para televisão. Curta Aventura no Carnaval Para abrir a sessão, foi escolhida a produção Aventuras no Carnaval, dirigido por Cristiano Trein para o Núcleo de Especiais da RBS TV, como episódio integrante da minissérie Os Escritores. Trata-se de um conto de mesmo nome retirado da obra “Mistérios de Porto Alegre”, de Scliar. “Aventuras no Carnaval” é uma comédia que brinca com conceitos freudianos, transformando-os em personagens. O episódio é uma insólita aventura psicanalítica bem ao estilo fantástico de Moacyr Scliar. O evento Exibição do filme Um Sonho no Caroço do Abacate Abertura com o curta Aventuras no Carnaval, realizado pelo Núcleo de Especiais da RBS TV Após o filme, acontecerá uma rodada de perguntas com o diretor Luca Amberg. Local: Cinemateca Capitólio – Rua Demétrio Ribeiro 1085, Centro Histórico de Porto Alegre – (51) 3289-7450 Dia: 23 de junho Horário: 20h Ingresso: gratuito (respeitando a ordem de chegada)

Moacyr Scliar: legado e obra do escritor revivido a quatro vozes

O evento “Scliar a Quatro Vozes” lotou o Centro Histórico-Cultural Santa Casa na última sexta-feira, 26. Regado a muita alegria, lembranças, risadas e confraternização, o encontro foi uma oportunidade para reviver o legado da obra do escritor Moacyr Scliar. Com apresentação e condução do jornalista Tulio Milman – e abertura de Judith Scliar e Gabriel Oliven –, os convidados Luís Fernando Veríssimo, Antônio Torres, Ignacio De Loyola Brandão e Zuenir Ventura destacaram momentos marcantes da vida do escritor e ressaltaram a importância da sua obra para a cultura brasileira. Durante o evento, o público também pode conferir o documentário “Caminhos de Scliar”, dirigido e roteirizado por Claudia Dreyer, com direção de fotografia de Bruno Polidoro e produção da Prana Filmes e Luciana Tomasi. O documentário faz parte da exposição “Moacyr Scliar: o Centauro do Bom Fim”, realizada pelo Santander Cultural, em 2014. Na mídia O evento foi destaque da edição de sábado do Jornal do Almoço, da RBS TV, que destacou os melhores momentos do encontro. O jornal Correio do Povo trouxe em suas páginas os artigos de Judith Scliar, Antônio Torres e Abrao Slavutzky no Caderno de Sábado, resgatando lembranças, sentimentos e a contribuição de Scliar para a literatura mundial. O jornal Folha de São Paulo também deu grande destaque a cobertura do evento em suas páginas. Confira a galeria de fotos do evento:

Ignácio de Loyola Brandão: Questões sobre Scliar, escritor de paletó e gravata

Pediram-me para fazer aqui uma crônica síntese do que vou falar na noite de Moacyr Scliar. Como se fosse um trailer, atraindo o público. Mas se começo a contar, conto tudo, depois não tenho necessidade de falar. Ou quando eu começar, as pessoas vão  ligar celulares, mandar mensagens,  se distrair, dizendo: já sei o que ele vai dizer. Uma coisa sei que não vou fazer. Falar sobre a obra. Deixo isso para os teóricos, aqueles que gostam de falar em plausibilidades, indeterminações, desconstrução da metalinguagem, antropomorfismo, indeterminismo das ideologias, experiência das contingências, ecolalia, e assim por diante. Foram anos de encontros e desencontros por dentro deste país. Muitas vezes, eu chegava a uma cidade e Scliar estava saindo. Nem calculam quantos cafés tomamos em aeroportos, ou águas minerais. Ou eu saia e ele chegava.  Lembro-me que Scliar foi um dos que rapidamente aderiram as viagens literárias, costume que começou lá por 1975, com o Torres, o João Antonio, e o outro, o outro era, quem mesmo? Ah, eu! Enquanto ele aderia, muita gente nos ironizava, vocês são vaidosos, querem se exibir, querem mídia, querem o que com essas via sacras? Escritor escreve, argumentavam, não passeia. Não sei se foi em João Pessoa ou em Natal que Scliar discutiu com um catedrático de nome Cunha, um crítico provinciano, que argumentava: enquanto viajam, vocês perdem tempo, não escrevem. Scliar deu de ombros. Não sei se aquele Cunha está vivo ainda, porque olhando a obra do nosso autor, veria que quase 80 livros é algo significativo. Ou significante, como diriam os acadêmicos. Vou deixar para o Zuenir Ventura falar sobre o Clube dos Escritores Sem Netos, CESN. Quero levantar questões como: Como pode escrever um escritor que não toma uma gota de álcool? Ainda mais sendo gaúcho? Por que Scliar estava sempre de paletó e gravata? Por que ele jamais falava do que estava escrevendo? Porque ele  jamais proclamava os prêmios, as entrevistas que dava, as notícias a seu respeito? Como produzia tanto? Escrevia tanto, viajava tanto e nunca foi demitido de seu posto como médico? Como? Devia faltar para caramba! O meio literário é um ninho de cobras que adora uma fofoca. Como jamais ouvi uma  incluindo Scliar? Finalizo com uma observação: poucos sabem que foi ele um dos primeiros escritores a usar lap-top e a mandar matérias diretas da Europa para o jornal. Ele cobriu a Feira de Frankfurt de 1994, dedicada ao Brasil, com o lap-top no colo. Como se fosse um blogueiro. Aliás, foi um pioneiro dos blogs.  Sei porque um dia, ele me passou o aparelho e disse: dê sua opinião sobre  essa fala? E eu não sabia escrever naquele teclado. O jornal Zero Hora cortou duas linhas em que eu dizia: ubfd das melgore congrtfereeiojn  asstpk…. Sobre o escritor: Ignácio de Loyola Brandão é um contista, romancista e jornalista brasileiro. Possui uma vasta produção literária, tendo sido traduzido para diversas línguas. Recebeu prêmios de destaque na literatura, entre eles o Jabuti, em 2008. Um grande nome da literatura brasileira e também amigo de Scliar que estará participando da mesa redonda “Scliar a Quatro Vozes”, nesta sexta-feira, 26.

Evento “Scliar a Quatro Vozes” reúne escritores para debater o legado de autor

Quatro grandes escritores, Luis Fernando Veríssimo, Ignácio de Loyola Brandão, Zuenir Ventura e Antônio Torres, se encontrarão em um raro momento para debater a obra, o legado literário de Moacyr Scliar e os desafios de escrever nos tempos da ditadura. O evento, um dos pontos altos da programação de comemoração Scliar 80 Anos, acontece no dia 26 de maio, no Teatro do Centro Histórico Cultural da Santa Casa, a partir das 19h30. Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente com desconto através do link. Na hora, estarão sendo comercializados ingressos somente a dinheiro e sem desconto. Apoio: Grupo RBS, Centro Histórico Cultural Santa Casa, Hotel Sheraton Porto Alegre e IdeaCaffé. Participe!

Sala de Visita entrevista Judith Scliar

Grandes entrevistas sobre o universo da literatura, cinema e música, entre diversos outros assuntos, dão o tom ao programa Sala de Visita, da Livraria Cultura. A entrevistada da vez é Judith Scliar. Formada em Pedagogia, especialista em Orientação Educacional, e também em Letras, atualmente, atua como professora de inglês e coordena um curso especializado em inglês médico. Desde que Moacyr Scliar faleceu, Judith tornou-se responsável por manter viva a obra do escritor que, em 2017, completaria 80 anos. Confira a entrevista, onde ela destaca momentos da vida e obra do escritor.

Regina Zilberman: “Moacyr Scliar, intelectual judeu”

Novo livro reúne crônicas em que o escritor reflete sobre a identidade judaica como parte da condição humana, tema abordado por ele ao longo de toda a sua carreira, na imprensa, no ensaio e na ficção Por: Regina Zilberman Nunca foi muito fácil falar dos judeus, mesmo entre eles, e por várias razões: trata-se de uma nação que, formada na Antiguidade, não renunciou aos vínculos com esse passado distante; os judeus são os responsáveis pela Bíblia hebraica, obra que, ao lado de epopeias como a Ilíada e a Odisseia, fundou a cultura ocidental e inspirou sua gêmea fraterna, a Bíblia cristã; aquele povo sofreu perseguições religiosas e étnicas desde os primeiros séculos da era cristã que, se não foram contínuas, ameaçaram sua sobrevivência; além disso, foi expulso de sua pátria, mas nunca deixou de aspirar o retorno à Terra Santa, manifestando esse anseio desde as lamentações do profeta Jeremias até a redação por Theodor Herzl, de O Estado Judeu, concretizando-o, enfim, por sobre — e talvez por causa de — as ruínas deixadas pela Segunda Guerra. Nem sempre os próprios judeus gostam de falar do assunto, seja porque sofreram os traumas do antissemitismo e do holocausto, seja porque são objetos de blague, seja porque se sentem constrangidos ou intimidados. Judaísmo é, mas esperemos que não para sempre, um tema espinhoso, e poucos percebem-se efetivamente habilitados a manifestar-se sobre ele. Pois Moacyr Scliar é o escritor que, desde o começo de sua trajetória enquanto ficcionista e ensaísta, optou por abordar frontalmente, porém de modo sereno e maduro, a questão do judaísmo. Quando publicou O Carnaval dos Animais, em 1968, e, pouco depois, A Guerra no Bom Fim, em 1972, ele tinha pouco mais de trinta anos, mas a juventude não o impediu de criar o primeiro protagonista judeu do romance brasileiro e a discutir assuntos que feriam a sensibilidade de seu público, como o Nazismo ou o antissemitismo. Por outro lado, procurou incluir problemas não propriamente judaicos, como a renúncia aos ideais, o comodismo, o fracasso existencial, mas que também lhes diziam respeito, porque relativos à sociedade brasileira a que pertenciam. A Guerra no Bom Fim é, na sua versão de 1972, depois alterada pelo autor, um livro tão corajoso, que discute mesmo a questão dos palestinos e a sedução do terrorismo, quando o assunto era incômodo para os habitantes da região, mas não afligia os demais, como se passa em nossos dias. As crônicas de A Nossa Frágil Condição Humana recuperam essa trajetória percorrida pelo escritor desde o começo de sua carreira literária. Elas foram publicadas originalmente em Zero Hora, entre 1977 e 2010, aparecendo nos diferentes espaços que o jornal lhe reservava: o Segundo Caderno, a coluna Opinião, a Revista ZH, o suplemento dominical Donna, a crônica semanal das terças-feiras no Informe Especial. Nenhum desses espaços tinha um temário específico, e Scliar preenchia-os com tópicos variados, respondendo em algumas circunstâncias a pautas suscitadas por acontecimentos que requeriam sua expertise, como saúde pública ou literatura. Entre os tópicos que dominava, constavam as matérias relacionadas ao judaísmo, que incluíam episódios e líderes políticos do Oriente Médio, retrospectivas históricas, atividades culturais, memória, comentários. No filme Negação (Denial), uma das perguntas propostas pela trama diz respeito ao posicionamento do intelectual ou do homem de letras, seja ele historiador ou cronista, perante acontecimentos do passado ou do presente: deve ele seguir sua opinião, ajustando a qualquer custo os fatos às suas ideias? Ou buscar o significado dos eventos, considerando-os mais importantes que suas convicções particulares ou ideais? Assim sintetizado o dilema, a segunda alternativa parece a mais indicada; porém, não é sempre que essa situação prevalece. As pessoas, incluídos aí historiadores, escritores e pensadores, muitas vezes preferem ater-se a conceitos previamente formulados, deixando de lado o que contraria aqueles juízos. As crônicas de Moacyr Scliar reunidas em A Nossa Frágil Condição Humana são exemplo candente da alternativa correta, decorrente da atitude que opta, primeiro, por examinar o caso e, depois, julgá-lo, ainda que nem sempre o posicionamento enunciado se mostre agradável ou simpático a si mesmo ou a outros. E isso que o escritor lida com uma matéria bastante sensível — o judaísmo, tema agudizado no século 20 após a revelação dos crimes do Nazismo, da fundação do Estado de Israel e dos conflitos entre árabes e israelis. A variedade da pauta não significa que Scliar detivesse um conhecimento genérico ou fosse superficial ao abordar os conteúdos propostos. Pelo contrário, ele se mostrou invariavelmente um especialista, bem informado e profundo, expondo-os, graças a seu talento, em linguagem atraente e acessível aos leitores. Adveio dessas virtudes a necessidade de republicar as crônicas, agora reunidas sob uma rubrica, a do judaísmo, pois é o que as aproxima, e dirigidas a uma audiência mais ampla, porque registradas em livro. A frágil condição humana é a dos judeus, mas é também a de todos nós, seres precários que habitamos esse planeta. A palavra de Scliar, em suas crônicas, certamente colabora para que a árdua travessia de cada um possa ser mais serena, porque acompanhada pela sabedoria de um intelectual capaz de se posicionar perante os fatos sem submetê-los a conceitos prévios, ensinando-nos a assim também proceder. Fonte: Zero Hora