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19 de junho de 2018
Redescobrindo Scliar | “Meu filho, o doutor”: Judaísmo, Medicina, Psicanálise e Humor

Judaísmo, medicina, psicanálise e humor: essa é a mistura que dá o tom a “Meu Filho, o Doutor”, livro que o psicanalista Abrão Slavutsky comenta para a série Redescobrindo Scliar, onde amigos e colegas de Moacyr comentam suas obras favoritas do escritor que merecem ser sempre (re)descobertas pelo público.

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“Meu filho, o doutor”: Judaísmo, Medicina, Psicanálise e Humor

Moacyr Scliar, médico e escritor, está traduzido em dezesseis idiomas. Além disso, é um dos dez ficcionistas brasileiros mais lidos no exterior. Talvez seja o único no País a unir o conhecimento bíblico com a cultura nacional. Além de suas novelas e contos, escreveu muitos ensaios. Sempre aprendi lendo e relendo seus estudos sobre a culpa, a melancolia, a medicina, o humor judaico, a literatura.

No seu livro Meu Filho, o Doutor expõe uma breve história tanto da medicina como do judaísmo. No passado, toda mãe judia sonhava em ter um filho ou um genro médico. Aliás, o título do livro é uma referência às mães, em especial às mães judias como a dele. Esse breve ensaio é uma síntese de sua tese de doutorado que defendeu na Escola Nacional de Saúde Pública do Rio de Janeiro. O primeiro capítulo é sobre às raízes históricas da cultura judaica. Destaco a palavra raízes, pois em todos os ensaios do Scliar ele busca as raízes para conhecer o máximo possível do tema investigado. A leitura de Meu Filho, o Doutor é uma breve viagem pela história do povo judeu, a história da Medicina e dos médicos judeus a partir da Idade Média. O resultado dessa dedicação, através dos séculos, foram as conquistas do Prêmio Nobel de Medicina. Cerca de 30% dos ganhadores são médicos judeus. Este é um dado significativo considerando-se que apenas 0,3% da população mundial é judia.

Se tivesse que destacar dois heróis do livro, entre tantos, seriam Maimônides e Sigmund Freud, a quem o autor dedica dois capítulos. Moses ben Maimon, nome completo de Maimônides, foi o médico-filósofo judeu mais famoso da Idade Média. Foi um herói também no mundo árabe, tanto que era o médico do Sultão, de sua família e de toda a corte do Cairo. Ademais, influenciou São Tomás de Aquino quanto às relações entre a Fé e a Razão. Além de ser uma referência médica, foi um intérprete essencial do Talmud até os dias atuais.

O outro herói para Moacyr Scliar foi Sigmund Freud, a quem dedica dois capítulos do livro: “Psicanálise e judaísmo” e “Psicanálise, judaísmo, literatura”. O escritor nascido no Bom Fim que conquistou o mundo era um entusiasta de Freud, sem perder sua capacidade crítica. Teve vários analistas e pôde vivenciar a importância da análise. Conheci Freud na biblioteca do Scliar, ele tinha a coleção completa da Imago que seu pai havia comprado de presente a seu pedido.

Meu Filho, o Doutor tem ainda muito do humor judaico sobre as mães judias, seus filhos e piadas sobre os médicos. Sim, porque ao lado da exaltação da profissão de curar tem a rebeldia do humor. Enfim, num livro de pouco mais de cem páginas, Moacyr Scliar escreve uma síntese de algumas de suas principais paixões: Medicina, Judaísmo, Psicanálise, Literatura e Humor.

ABRÃO SLAVUTSKY
Psicanalista