Scliar será tema de duas homenagens póstumas

Falecido em 2011, o escritor gaúcho e acadêmico Moacyr Scliar será tema de duas homenagens póstumas por ocasião do lançamento do livro “Território da emoção”.
Aprovado projeto que dá o nome de Moacyr Scliar à Biblioteca Pública do Estado

Foi aprovado por unanimidade, nesta terça-feira, projeto do deputado Raul Pont que denomina Biblioteca Pública Moacyr Scliar a Biblioteca Pública do Estado de Porto Alegre.
Moacyr Scliar recebe homenagem do Memorial do RS

Nesta terça-feira, o Memorial do RS prestou uma homenagem ao escritor Moacyr Scliar por conta da passagem de dois anos de sua morte.
Scliar Múltiplo

O Memorial do RS prestará na semana que vem homenagem ao escritor Moacyr Scliar (1937-2011) pela passagem de dois anos de sua morte e também de seu aniversário – o escritor nasceu no dia 23 de março.
Lançamento da coletânea “Território da Emoção”

Esta coletânea de crônicas dá sequência ao projeto da Companhia das Letras de publicar uma amostra significativa das crônicas escritas por Moacyr Scliar ao longo de mais de trinta anos de colaboração com o jornal Zero Hora, de Porto Alegre. A literatura e a medicina são dois eixos constantes na imaginação de Scliar: incansavelmente, o escritor – ele próprio médico sanitarista – voltou aos temas que o apaixonavam. Em sua concepção, ambos estão vinculados pela palavra. Assim, nestas crônicas desfilam médicos escritores (dos primórdios de Galeno e Vesálio até Thomas Mann, Tolstói e Molière); recordações dos anos de estudante na faculdade de medicina em Porto Alegre; histórias da prática médica; escritores doentes e o modo como lidaram com as próprias limitações físicas; escritores que escreveram sobre medicina… E ainda, numa outra vertente, questões políticas e éticas, como a colaboração de alguns médicos com a ditadura, tanto no Brasil como em outros regimes autoritários. O humor de Scliar funciona mais no registro da malícia que no da ironia; é ele o responsável pela leveza encantadora dessas crônicas, que não se furtam à gravidade de muitas das questões que abordam, a começar pela maior delas, âmago tanto da literatura como da medicina. Para o escritor, a medicina opera “pequenas ressurreições” diante do “aguilhão da morte”. “A última palavra é a da Morte. Mas enquanto ela não chega a medicina tem muito a dizer.” E a literatura também. PREFÁCIO: LEITURA PRAZEROSA SOBRE A SAÚDE de Regina Zilberman (trechos) Quando optou pela Medicina, em 1955, Moacyr Scliar já tinha redigido alguns contos, e até sido premiado por um deles, episódio de sua juventude que gostava de relatar a seus leitores e ouvintes. Contudo, as duas carreiras – a de médico e a de escritor – foram inauguradas ao mesmo tempo: em 1962, ano em que concluiu a faculdade e publicou as Histórias de médico em formação, cujo conteúdo é fornecido sobretudo por suas experiências na sala de aula, ambulatórios e hospitais públicos. Não é ainda nessa fase que começa a elaborar textos sobre sua atividade profissional. Pelo contrário, as obras subsequentes, como os contos deCarnaval dos animais, de 1968, e o romance A guerra no Bom Fim, de 1972, registram acontecimentos nos quais predominam a imaginação e o fantástico, mesmo quando se mesclam a fatos importados da memória da infância, transcorridos em Porto Alegre. Não que o escritor tivesse se afastado muito da área da saúde: Joel, de A guerra no Bom Fim, é dentista. Mas é em Doutor Miragem, de 1978, que Scliar volta a sintonizar literatura e medicina, título da crônica que abre esta seleção, retomando ao mesmo tempo um filão temático de que era admirador, o da ficção que confere protagonismo ao “doutor”, como em Olhai os lírios do campo, de Erico Verissimo, ou A Peste, de Albert Camus. ………. Ao assumir a permanente titularidade da coluna A Cena Médica, Moacyr Scliar não é mais o novato das Histórias de médico em formação, e sim o profundo conhecedor da matéria sobre a qual se pronuncia para um público interessado e já admirador do escritor nacional e internacionalmente premiado. Por sua vez, o escritor elege a crônica enquanto instrumento de diálogo com o leitor. A opção poderia parecer natural, porque Scliar era então um cronista maduro e prestigiado. Mas ele poderia ter preferido a reportagem, o ensaio, o artigo científico, alternativas viáveis dentre o leque aberto, de uma parte, a um jornalista, já que há algum tempo participava ativamente de um periódico diário, ou a um cientista, posição também aplicável a ele enquanto professor de uma instituição de ensino superior. A crônica aparece, pois, como resultado de uma decisão consciente e deliberada, não apenas porque o escritor era um mestre do gênero, mas provavelmente porque ele sabia que se tratava da maneira mais amável para se dirigir ao leitor, a que esse aceitaria de forma amistosa. A eleição da crônica representa, para Scliar, pois, o modo como, enquanto médico, pode se comunicar mais eficazmente com o leitor, leigo, mas que, mesmo diante de temas técnicos e especializados, aprecia ser abordado de igual para igual. Dito de outra maneira, as crônicas médicas mimetizam, por escrito, a relação médico-paciente. Esta, seguidamente, é mediada pela oralidade, mas, no âmbito do impresso, cabia escolher outro caminho, e é essa a decisão tomada pelo autor. Assim, ele tem condições de estender-se sobre questões espinhosas ou problemas do cotidiano, matérias polêmicas ou novidades científicas, de modo aparentemente leve, porque fácil de entender, sem comprometer o rigor e a exatidão com que as informações são transmitidas. À validade do teor científico é preciso adicionar a qualidade literária das crônicas. Nas cenas médicas originais, Scliar pratica o mesmo cuidado formal encontrável em suas narrativas e ensaios. Ao facilitar a compreensão dos problemas de saúde, as possibilidades de cura, as atitudes a tomar diante de temas em voga, ele não banaliza a linguagem, nem incide em vulgaridade, valendo-se da propriedade que constitui uma das marcas mais notáveis de sua prosa: a simplicidade. …….. As crônicas selecionadas cobrem um arco de tempo que se estende de 1995 a 2011. “Humores e hormônios” foi o último texto escrito para a coluna A Cena Médica, tendo sido publicado postumamente. Entre a primeira e a última, aproximadamente setecentos textos foram redigidos, dentre os quais 94 aparecem neste livro, subdivididos em seis grupos, consoante sua matéria. No interior de cada um dos grupos, as crônicas alinham-se em ordem cronológica, considerando o período de dezesseis anos durante os quais Scliar participou do Caderno Vida, de Zero Hora, de Porto Alegre. …….. Pode-se observar que a opção pela simplicidade na condução da linguagem das crônicas corresponde ao desejo de esclarecer o público. Esta é a atitude adotada pelo autor do primeiro ao último texto, porque seu intuito é antes de tudo pedagógico. Scliar está ciente de que o destinatário precisa conhecer o problema, para prevenir-se adequadamente, no que diz respeito tanto à saúde física e mental, quanto a um posicionamento diante de seu grupo e da
Jornal Nacional aborda a polêmica envolvendo “A vida de Pi” e “Max e os Felinos”

Nessa matéria sobre o filme recordista em indicações ao Oscar, o escritor Moacyr Scliar conta a história do plágio atribuído a Yann Martel, cujo livro foi “inspirado” em “Max e os Felinos”.
Artur Xexéo escreve sobre “as desventuras de Pi” no Globo

Reprodução da coluna do Xexéo na Revista O Globo de hoje. Ele explica bem a história do plágio atribuído ao Yan Martel ao lançar “A vida de Pi”, copiada de “Max e os felinos” de Moacyr Scliar. AS DESVENTURAS DE PI Artur Xexéo Torcia para que “As aventuras de Pi”— o filme que, originalmente, se chama “The life of Pi”, mas recebeu este estranho título no Brasil — fosse uma produção de poucas qualidades. Nada contra seu diretor, Ang Lee, cineasta que já me deu muito prazer no cinema. Mas um filme bom, tirado do romance “A vida de Pi”, traria mais alguns trocados para seu autor, Yann Martel, e isso me deixa irritado. Faturar em cima da ideia alheia não é das atitudes mais bonitas que estão por aí. Por isso, torcia para que “As aventuras de Pi” fosse ruim, não fizesse sucesso e não aumentasse a conta bancária de Martel. É ruim que Ang Lee não faça um bom filme. “As aventuras de Pi” não é a melhor obra do diretor de “O segredo de Brokeback Mountain”, “Razão e sensibilidade” e “O banquete de casamento”. Também não é o pior filme do autor de “Hulk”, “O tigre e o dragão” e “Aconteceu em Woodstock”. “As aventuras de Pi” está ali no meio, junto com “Comer, beber, viver” e “Desejo e perigo”. É um pouco verborrágico — a estrutura do roteiro segue a estrutura do romance, em que há um narrador —, talvez um pouco longo — o epílogo se prolonga mais do que necessário — e, certamente, deslumbrado com as possibilidades do 3D. Mas é irresistível. O que interessa mesmo, a convivência do jovem indiano Pi com um tigre de bengala, num bote salva-vidas, após um naufrágio, é muito bem filmado e deixa o espectador com medo de piscar os olhos e perder alguma coisa. É aí que eu começo a me irritar de novo. Toda essa situação é copiada do romance brasileiro “Max e os felinos”, escrito por Moacyr Scliar. No livro de Martel, o protagonista sofre um naufrágio e sobrevive num barco ao lado de um tigre; no livro de Scliar, o protagonista sofre um naufrágio e sobrevive num barco ao lado de um jaguar. Em seu livro, o autor canadense faz uma citação ao escritor brasileiro. Em meio a agradecimentos a bibliotecárias e pesquisadores, ele agradece “à inspiração” de Moacyr Scliar. Convenhamos, foi bem mais do que uma “inspiração”. Quando o livro de Martel ganhou o prêmio Booker e, consequentemente, 75 mil dólares, a imprensa brasileira denunciou o plágio. Martel teve que se explicar. Disse que não tinha lido o livro de Scliar, apenas uma resenha publicada num jornal. Disse também que a resenha era negativa e que uma ideia tão boa tinha que ser mais bem aproveitada. Ele se encarregou, então, de transformar a boa ideia em bom livro. Em outras palavras, a emenda saiu pior do que o soneto. A tal resenha negativa nunca foi localizada. Martel nunca soube dizer onde a leu. Mas o caso foi tão constrangedor que ele acabou telefonando para Scliar com um pedido de desculpas. Scliar relevou, mas nunca engoliu a história. Agora o filme está aí. Faz sucesso no mundo inteiro e aumenta o faturamento do plagiador. É por isso que eu não queria gostar. Mas gostei. Um pouquinho. Acharia melhor se não fosse em 3D (como são incômodos os óculos para se assistir a um filme em três dimensões!). A tecnologia, tão bem utilizada por Martin Scorsese em “A invenção de Hugo Cabret”, não acrescenta nada a “As aventuras de Pi”. Mas a fábula da sobrevivência, que funcionou bem nos dois romances, continua funcionando no cinema.
Dica Cultural – O Centauro no Jardim

No começo de dezembro, Judith Scliar esteve no Rio para o lançamento de um livro do Moacyr no Midrash. Essa entrevista foi para o programa de TV da Federação Judaica. Ela falou sobre ” O Centauro no Jardim”, um clássico cuja leitura é recomendada a todos.