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1 de dezembro de 2013
Acervo digital da obra de Moacyr Scliar será disponibilizado ao público

Entre as mais de 8,6 mil páginas de manuscritos e anotações do escritor que estão sob os cuidados da PUCRS, estão os originais de “A Guerra do Bom Fim”, de 1972

Por Alexandre Lucchese
Publicado em 01/12/2013 no Segundo Caderno da ZH

Judith Scliar doou à PUCRS parte dos originais e manuscritos do escritor / Foto: Adriana Franciosi - Agencia RBS

Judith Scliar doou à PUCRS parte dos originais e manuscritos do escritor / Foto: Adriana Franciosi – Agencia RBS

— Moacyr escrevia muito, e escrevia rápido — conta Judith Scliar, viúva de um dos escritores mais prolíficos do Rio Grande do Sul. Originais e recordações que remontam aos escritos de Moacyr Scliar (1937 — 2011) ao longo da vida estarão em breve acessíveis a todos pela internet.

Mais de 8,6 mil páginas de manuscritos e datiloscritos do escritor que estão sob os cuidados da PUCRS, boa parte deles doados por Judith, estão em processo de digitalização pelo Espaço de Documentação e Memória Cultural (Delfos), pertencente à instituição. Entre manuscritos e textos enviados para editoras, o acervo congrega originais do primeiro ao último romance de Scliar.

— Temos aqui a primeira composição de A Guerra do Bom Fim, de 1972, e anotações difíceis de estimar com precisão, mas que provavelmente são de um período entre 1962 a 1968 — explica a professora Marie-Hélène Passos, responsável pela organização do acervo.

A maior parte desse material digitalizado estará disponível para livre acesso a partir do início de 2014. A única restrição feita por parte da família são os textos inéditos que aparecem na coleção.

— Acredito que, se o Moacyr não quis publicar este material, foi por algum bom motivo. Não pretendemos deixá-lo público no acervo nem editá-lo em livros — diz Judith.

Além disso, enfatiza, os volumes não publicados têm ideias e trechos melhor trabalhados em outros romances e contos lançados no mercado editorial. Especialista em crítica genética, campo de pesquisa que trata das marcas deixadas por autores em processo criativo, Marie-Hélène esclarece que a disponibilidade do acervo possibilita maior compreensão de como Scliar praticava a escrita:

— Quando você vê esse material, se dá conta de que ele passava o tempo todo escrevendo, era tão natural como respirar.

Bilhetes de aeroporto, recibos de postos de gasolina, folhas pautadas, blocos de nota: qualquer papel servia como suporte para grafar o que vinha da imaginação do autor. A variedade de materiais do acervo impressiona quem o manuseia, demonstrando que escrever era mesmo uma constante.

O processo de arquivamento virtual e publicação iniciado com os textos de Scliar vai ser também aplicado a outros acervos do Delfos. Regina Kohlrausch, diretora da Letras da PUCRS, esclarece que o autor foi escolhido por conta de sua importância e pela boa relação da instituição com a família:

— Uma parte deste material já tinha sido doado pelo próprio Scliar em 2005, depois Judith complementou o acervo. Os herdeiros são muitos acessíveis e colaborativos com o que estamos fazendo

Judith conta que ainda pretende lançar um site com booktrailers do autor e textos analíticos de sua obra. A busca é pela preservação da memória do escritor:

— Estamos preparando este espaço, que irá centralizar conteúdos e terá link para os trabalhos acessíveis pelo Delfos.

Destaques do acervo

Produção em larga escala
A organização estima em torno de  8,6 mil páginas de acervo.

Copiar e colar
Páginas datilografadas são povoadas de secções e emendas com trechos, revelando método de trabalho do autor.

Anotações constantes
Bilhetes de viagem e recibos de posto de gasolina fazem parte das colagens que compõem os originais.

Perfeccionismo
Cada romance tem cerca de quatro ou cinco versões.

Raridade
O manuscrito mais antigo do acervo é A Guerra do Bom Fim, de 1972, mas estima-se que há papéis anteriores a 1968.

Era digital
Eu vos Abraço, Milhões, escrito no computador e lançado em 2010, tem a prova de editora conservada no acervo.