Notícias
17 de setembro de 2014
Homenagem a Moacyr Scliar

Grande exposição em Porto Alegre relembra a vida e a obra do escritor gaúcho, morto em 2011, vítima de um AVC

image

Prolífico, Moacyr Scliar publicou mais de 130 livros, e atuou também como médico sanitarista

Porto Alegre. Moacyr Scliar (1937-2011) foi um dos mais prolíficos escritores brasileiros e, ao longo de quase meio século, publicou, aqui e em outros 14 países, mais de 130 livros. É dele, aliás, a ideia original de “A Vida de Pi”, plagiada e ampliada por Yann Martel e adaptada para o cinema por Ang Lee – que virou best-seller e blockbuster.

 Uma das figuras mais queridas do meio literário, ele foi, antes e durante sua carreira de escritor, médico sanitarista. Seu vasto e rico universo está sendo contado na exposição “Moacyr Scliar – O Centauro do Bom Fim”, em cartaz até 16 de novembro no Santander Cultural, em Porto Alegre. E para compreender esse universo é preciso, antes, refazer os passos de seus pais, judeus russos que chegaram ao Brasil em 1904.

Um longo túnel de 20 metros imitando a rampa de acesso de um navio leva o visitante, ao som do mar e da madeira estalando sob os pés, ao Bom Fim, bairro judeu de Porto Alegre, onde Scliar nasceu e cresceu. Pelo caminho, fotos de outros tantos imigrantes que deixaram a Bessarábia e outros países em busca de melhores condições.

Chegando à instalação do Bom Fim, conhecemos, por fotos reproduzidas em totens e mapas cobrindo o chão e a parede, lugares como o Cine Baltimore, a Escola Iídiche, o Bar do Serafim, a Associação Israelita Hebraica e, claro, a rua Fernandes Vieira, onde ficava a casa dos Scliar, representada na instalação seguinte. Uma casa modesta, na qual a água do banho era aquecida em lata de óleo no fogão, mas onde, dizia o escritor, não faltavam livros.

Sua extinta biblioteca infantil, formada por obras como “Tarzan”, “As Aventuras de Pinóquio” e “Os 12 Trabalhos de Hércules”, foi reconstruída pelo cineasta Carlos Gerbase, o curador. Entre um livro e outro, estão fotos do menino Scliar: a formatura no Colégio Rosário – onde ganhou seu primeiro prêmio como escritor – e um banho de mar. Nas paredes, móveis cenográficos para dar uma ideia de como era a casa da infância do autor.

Há, ainda, documentos, manuscritos, datiloscritos e fotos originais, a máquina de escrever, o discurso de formatura da faculdade de Medicina, o fardão da Academia Brasileira de Letras, as estatuetas do Jabuti, uma estátua dele como jogador de basquete. Quem quiser ler os livros, basta pegar um dos tablets e sentar numa das poltronas espalhadas pela exposição. Os infantojuvenis estão ali, em papel, para serem manuseados pela criançada. Pelas paredes, reproduções de capas e de textos do autor.

O documentário “Caminhos de Scliar”, de Claudia Dreyer, o curta “No Amor”, de 1982, e uma instalação com atores lendo diálogos dos livros completam a mostra, que não tem previsão de ser montada em outros lugares.

Moacyr Scliar morreu em decorrência de um AVC, e a ideia da exposição surgiu logo em seguida – uma tentativa de elaborar o luto. “Fomos todos privados de sua companhia e histórias muito subitamente”, comenta a viúva Judith Scliar, idealizadora da exposição, ao lado de Gabriel Oliven. Ela diz que o processo de pesquisa foi doloroso: “Busquei fotos de toda uma vida e isso mexe, faz reviver uma série de coisas. Mas vale a pena porque é importante compartilhar isso com o público e os amigos”, afirma.

Fonte: O Tempo